sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A professora de piano - 2001



A PROFESSORA DE PIANO

Sinopse
Erika Kohut (Isabelle Huppert) trabalha como professora de piano no Conservatório de Viena. Ela não bebe nem fuma, vivendo na casa de sua mãe (Annie Girardot) aos 40 anos. Quando não está dando aulas Erika costuma frequentar cinemas pornôs e peep-shows, em busca de excitação. Logo ela inicia um relacionamento com Walter Klemmer (Benoît Magimel), um de seus alunos, com quem realiza vários jogos perversos.

DADOS TÉCNICOS

Direção: Michael Haneke
Audio: Francês/Alemão
Duração: 131minutos aprox.


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A perversão é uma estrutura de personalidade descrita primeiramente por Freud. Que descreveu três estruturas de personalidade diferentes que são: a neurose, a psicose e a perversão, sendo a principal diferença entre essas é que o neurótico, sente culpa, o psicótico alucina (ou seja, não tem noção do que é realidade e fantasia) e o perverso, não sente culpa. Freud diz que o perverso não se importa com o desejo do outro e visa somente o seu próprio prazer, não medindo as conseqüências de seus atos para alcança-lo. O perverso é uma pessoa que não possui limites e não sabe respeitar as regras que são colocadas a ele. Ele também sente prazer com o sofrimento do outro causando muitas vezes a humilhação e o desprezo. É dissimulado e manipulador, tanto verbalmente como em atitudes, pode se fingir de arrependido quando na verdade está apenas manipulando o outro a acreditar na sua mentira.

Uma das principais características da perversão é também a anulação do desejo do outro. Ou seja, não importa o que o outro deseja ou não, o perverso vai apenas realizar suas vontades e fantasias, sejam elas com o consentimento ou não da outra pessoa em questão.

No filme esse tipo de atitude é visto da forma fria com que a professora trata o seu aluno que se diz apaixonado por ela. E a forma com que ela o humilha e controla a situação na cena do banheiro, por exemplo. Ou quando ele lê a carta que ela escreveu a ele, e ela continua com tamanha frieza que não esboça um sentimento sequer, a não ser o ar de superioridade que ela tem durante todo o filme.

Outra parte que ilustra bem o quão dissimulado um perverso pode ser é quando a professora coloca cacos de vidro dentro do bolso do casaco da aluna que ela julga alguém ruim e sem talento. Quando questionada quem poderia ter feito tal crueldade com a aluna ela simplesmente diz que não sabe, e além disto, tenta demonstrar certo afeto pela aluna. O que não passou de uma demonstração “politicamente correta”, já que na verdade ela estava sentindo prazer (no sentido de satisfação) com o sofrimento da outra.

É claro que não se pode considerar perversas todas aquelas pessoas que fazem crueldades, que humilham outras pessoas e/ou se mostram superiores as demais. Pode ser apenas uma maneira de se defender. Vale dizer que a perversão é uma estrutura de personalidade, não é como uma gripe, que hoje você tem, e amanhã você já está curado. Não é uma doença que se trata com medicação, mas é uma forma que a pessoa encontrou para viver, por N motivos, que se for explicar todas ficaria três dias explicando e ainda não terminaria de dizer tudo. É importante dizer também que o perverso não tem apenas fantasias sexuais sádicas, e nem sempre existe essa conotação puramente sexual na perversão. Uma pessoa perversa pode sentir prazer com outros tipos de situações, que muitas vezes nada tem sexual. O seu prazer vem não somente com o sofrimento físico do outro, pode ser alguém que goste de manipular apenas pelas palavras, e muitas vezes sem dizer nenhuma palavra ofensiva, o seu prazer, pode estar na manipulação de vontades e desejos do outro, por isso que o ditado “lobo em pele de cordeiro” encaixa-se muito bem para os perversos.


Fonte: Freud, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade.

16 comentários:

  1. Muito elucidativo o texto, gostei muito.Assim que me for possível verei o filme!Abraço!!

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  2. gostei do comentário sobre o filme é o que realmente retrata.

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  3. Adorei seu blog só pelo título e claro, pelo conteúdo. Estou seguindo :)

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  4. Mariliane, sou como vc cinéfila, mas ainda estudante de psicologia. Adorei a proposta do blog, vi nos passeiros do Laranja, e vim correndo pra cá conferir!

    Não li todos os seus textos ainda, mas me entusiasmei com o que já li, e gostaria de sugerir alguns filmes depois
    Beijos

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  5. Olá Mari, sou o fundador do www.cinemacultura.blogspot.com

    Gostei muito de seus textos e estou te add nos indicados no Cine Cult.

    Bjos

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  6. Mari adorei a sinopse do filme, e a explicação tbm está ótima!!!!!
    Quero muitoo ver esse filme !!!!
    bjos

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  7. adorei a ideia do blog, visitarei sempre que puder

    parabéns ;*

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  8. Olá. Sou editor do Cinebulição (www.cinebuli.blogspot.com), e gostei muito do seu blog. No meu também tem alguns artigos que pincelam coisas sobre sua área (eu sou de Crítico e Historiador, mas tenho um pé na psicanálise, e um dos colaboradores do Cinebulição também faz um bom trabalho com o tema...).

    Topa parceira entre as páginas? Minha proposta é seguir-nos um ao outro, e fazermos a indicação das páginas nas respectivas colunas de blogs parceiros.

    Dá uma olhada no Cinebulição. Se gostar e topar, ficaria muito feliz com a parceria.

    Abraço.

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  9. Já te linkei por aqui e já estou seguindo. Falta você fazer o mesmo, ok?

    Um abraço.

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  10. Adorei o blog. Dica de filme: Dúvida. É mto bom!

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  11. Parabéns pelo blog... Esse filme realmente é muito bom, assim como todos os filmes do diretor Michael Haneke. Recomendo vc assistir "A Fita Branca" , filme de conteúdo psicanalítico abordando a questão da repressão. Indico também filmes do diretor sueco Ingmar Bergman que, para mim, é o cineasta que mais aprofunda em seus filmes a questão psicológica dos personagens, como em "Persona", "Sonata de Outono", Gritos e Sussurros", entre outros.

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  12. Oi Mari! Gostei muito do seu blog... Assim como vc, também sou Psicólogo e cinéfilo. Tenho um texto, da época da faculdade, analisándo o filme A.I. - Inteligência Artificial de Steven Spielberg a partir da Teoria do Apego do psicanalista inglês John Bowlby. Se tiver interesse posso disponibilizar para vc postar no blog...

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  13. Muito boa mesmo a proposta do seu blog. Não conhecia e imediatamente o estilo e conceito me cativou. A maneira de você relacionar filmes temáticos pra estudos psicológicos torna aqui um espaço único - eu faço esse senso no meu espaço também. Relaciono e escolho filmes que eu possa trabalhar a sexualidade e o comportamento/psicológico dos personagens nos textos.

    "A Professora de Piano" é realmente um filme instigante, através de sua leitura o filme fica ainda mais reflexivo. Parabéns pelos textos!

    te linkei ao meu blog e te sigo.

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  14. Mariliane,
    Interessante a proposta do blog e vou seguí-lo. Parabéns.

    Permito-me, no entanto, algumas considerações. Considerando minhas colocações absurdas ou indevidas me avise, que me calo para sempre.

    Caso sua proposta seja apenas transmitir noções teóricas a respeito de alguns fenômenos psicológicos - no caso perversão – ótimo.
    No caso de querer fazer um estudo da motivação psicológica dos personagens do filme, e contextualizá-la para possibilitar uma leitura mais completa do filme, tenho algumas ressalvas.

    Sua análise deixa a perversão da protagonista (maravilhosa Huppert!) meio no ar. Faltou a caracterização de sua “perversão” como válvula de escape da repressão emocional e sexual sofrida por ela mesmo, e imposta pela mãe dominadora ( grande Annie Girardot! ).
    Ela própria é vítima! Sofre o dilema de dar vazão a seus desejos reprimidos, e finalmente o faz ignorando a dinâmica própria do terceiro elemento – o objeto de sua perversão – e paga por isto.

    Não concordo que nossa “heroína” não tenha sentimentos de culpa. Muito pelo contrário, é dilacerada por eles. A perversão , no caso, me parece mais uma transgressão dos valores morais estabelecidos, para dar vazão a às emoções e desejos represados, do que um traço de personalidade firmado.. Diferença fundamental no planejamento de eventual abordagem terapêutica.

    Com um grande abraço

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  15. Concordo com o Richardus quanto a análise das personagens, há repressão e culpa sim, automutilar-se é um sintoma de culpa, não?

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  16. Assisti ao filme ontem, achei maravilhoso, digno realmente de premiação.

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